04 março 2011

Viagem ao Oriente


Calcutá ou Kolkata, Índia, setembro 2007

Cheguei em Calcutá, sudeste da Índia, às 6:00hs da manhã vinda de São Paulo com escala em Londres. O aeroporto é pequeno e muito simples. Após 28 horas de viagem o cansaço começava a invadir meu corpo, mas a excitação de ter finalmente chegado em um país absolutamente diferente me impulsionou à explorá-lo. O plano era esperar, dentro do aeroporto de Calcutá, as 6 horas restantes até o próximo vôo com destino aos Himalaias,  mas depois de “conhecê-lo”, decidí “ dar um pulinho” até a cidade. Que ingenuidade à minha! Ou, no mínimo, cultura mundial limitada. Eu achava que o aeroporto de Calcutá fosse algo como o aeroporto de Congonhas em São Paulo, com lojas e o bastante para se distrair enquanto espera seu vôo. No aeroporto onde eu estava existem 3 lojinhas: uma de bebidas, uma de lanche e uma de livros – os livros empilhados no chão e por todo o quiósque, alguns empoeirados ou com plástico amarelado cobrindo. Títulos variados em hindu e inglês. Poucos lugares para se sentar, e, a única distração lá era eu mesma, pois havia muita gente me olhando.


Minha aventura começou quando passei a imigração. Era uma mulher vestida em sarí – o vestido usado pelas mulheres indianas. Enquanto ela analisava meu passaporte, oque levou uns 7 minutos, eu analisava o movimento local. As pessoas que entravam no país, na sua maioria eram indianos ou descendentes. Eu era uma das únicas ocidentais. Os demais eram casais, famílias ou homens desacompanhados. Esta era uma das minhas dúvidas. Como veriam uma mulher viajando sozinha, em um país altamente machista? Bem minha resposta viria em breve, do lado de fora do aeroporto. Após minutos de divagação olhei para o parapeito do guichê onde estava e eis que encontro uma carteira de documentos que não era minha. Abrí e ví um bolo de dinheiro. Muitas notas de dinheiro local e uma passagem aérea. Avisei a funcionária e disse que deveria ser da pessoa que passara antes de mim. Eu pensei em dar a carteira para a administração do aeroporto, mas achei que talvez eles pudessem ficar com o dinheiro. Resolví deixar com a mulher indiana que me atendeu no guchê. Pelo menos é polícia e mulher. Menos chance de ser corrupta? Não sei. O preconceito passou fortemente pela minha cabeça. Ela nem piscou, pegou a carteira deixou ao lado e chamou o próximo. Sinto pela pessoa que esqueceu sua carteira alí.

Minha aventura mesmo começaria à 20mts do lado de fora do aeroporto onde taxistas se reunem para desordeiramente pegar os passageiros, que planejadamente compraram seus tickets de táxi dentro do aeroporto. No guichê, o senhor que me vendeu o ticket disse: “Pegue o táxi amarelo que está no pátio na frente do aeroporto”. Bem, haviam 100 táxis amarelos, oque não seria problema se eles estivessem em fila. Não estavam. Me direcionei para uma roda de uns 30 homens gritando. Ao meio havia um deles escrevendo em um bloco, pegando recibos de passageiros e dando para qualquer motorista. Total “ zona” diríamos nós em São Paulo. Dei o recibo ao homem. O homem perguntou: Strrrreet? Eu falei: “ Center of Calcuta, please!” Nesse momento uns 20 homens pararam de falar e olharam para mim. O homem repetiu: “ Street?” . Eu falei: “ No street. Center of Calcuta.” . A palavra “center” foi repetida por alguns. Então o alvoroço começo. Falei algo errado? Pensei. Oque foi? Todos começaram à gritar uns com os outros, achei que havia iniciado uma batalha. E foi mesmo uma batalha...(a história terá continuidade)

Um comentário:

Educação à distância cada vez mais perto de todos disse...

Cintia, que bela história!!! E muito literária..., prendeu aminha atenção e fiquei com gostinho de "quero mais".

Estou muito impressionado com seu talento literário. Acredito que você deva publicá-lo. Não para ganhar dinheiro, não para ser famosa, mas para deixar um legado. Principalmente para as pessoas que sonham em viajar a lugares exóticos e míticos, mas que nunca foram e talvez nunca irão. Eu serei seu primeiro leitor, prometo.

Parabéns pelo belo texto, rico em detalhese informações. Aprendi um pouco mais sobre o Oriente...

Renato Barbosa, velho amigo...