
Era uma revolução, ao ter de encontrar quem dos 30 homens motoristas falava algum inglês. Enquanto isto um senhor indiano se aproximou; e me perguntou oque eu iria fazer no centro de Calcutá. Ao perceber que eu não fazia idéia do que iria fazer lá e que tinha somente algumas horas, ele me disse: "Go to Park Street" - Repeti o nome da rua para o homem do bloquinho; agora eu tinha um destino. Foi muito depois que eu entendi que os indianos não se localizam com referências como : centro de uma cidade - até porque as cidades são tão irregulares, que seria difícil achar o centro de qualquer uma.
Me apontaram um rapaz bem novo que me perguntou: "Zote Park Street?", "Zote?"
- Oque vc está falando agora moço? "Don't undestand".
- "Zote?" ele repetiu
- "Zote?" eu falei
- Sleep. ele falou
- Ok. Hotel you mean?
- Don't have Hotel. Let me on Park Street anywhere.
Bem eu imaginava Park Street ser uma avenida larga com parques, várias lojinhas e prédios antigos, talvez uma linda igreja ou convento de Madre Tereza de Calcutá. Algo como Viaduto do Chá, ou Mosteiro São Bento em São Paulo.

Aos poucos, enquanto saímos da área do aeroporto e adentramos as pequenas cidades, percebí que a coisa seria brava. Meu queixo simplesmente caiu; e eu comecei a temer as próximas horas. O caos era imenso. A pobreza, o aglomerado de pessoas, bicicletas, carros, ônibus, rickshaw (tipo de bicicleta que parece uma charretinha), além disso, vacas, cachorros e galinhas soltos pelas ruas, que não eram asfaltadas onde estávamos; tudo competindo o mesmo espaço, meio à gritos e buzinas, poeira e gente,muita gente. O tráfego na India é incrivelmente caótico. A direção para os motoristas é à esquerda como na Inglaterra, mas não existe sinalização e nem regras, eu suponho; pois cada um vai para o lado que quiser, desde que buzine, muito, sempre...A buzina é como um grito de guerra, ou de poder:
- Atenção eu estou chegando...vouuuu passaaar...estou passaaando, sai da freeeente....já passeeeeiiii....azar o seeeeuuuuu!
Pedestres e animais ocupam o mesmo espaço que os veículos, e como esses não tem buzinas, eles gritam, e muito. É cada um por sí; com seus deuses e sua fé, tentam atravessar os caminhos que não se parecem com ruas, e sim espaços comuns, pois não há calçadas, faixas de pedestres, semáforos. Só há gente, carros, animais...e muita poeira.

Em determinado momento o motorista falou:
- Poor man. Give 10 dolar.
- Eu fingí que não entender. E ele repetiu a frase.
- 10 dolar? Falei. What? I payed Taxi - Há esta altura achei melhor manter me inglês bem ruim...
Eu havia lido que os indianos pedem dinheiro aos turistas. Mas 10 dólares? Caramba! Será que tenho cara de rica? E eu nem caprichei no visual. Moleton, camiseta, sem maquiagem, uma única mochila. Cabelo despenteado...não adiantou. Acho qeu somente pelo fato de ser turista, para eles significa dinheiro. Não importa quanto. Esta máxima se confirmou várias vezes ao longo de minha viagem. O motorista dessitiu de pedir dinheiro. Felizmente o inglês dele era péssimo para argumentar, ficou fácil para mim "não entender", sem aborrecê-lo, oque não seria legal, passando pelos lugares onde passávamos.

Me deu medo. Aquilo não parecia uma grande cidade; aquilo parecia uma grande favela. Com pessoas tomando banho ao ar livre, na rua mesmo, outras sentadas no chão imundas. Aquilo era pior que a praça da Sé à noite, ou a Ladeira Porto Geral em São Paulo. Meu coração começou à bater mais forte, eu comecei à suar, e minha cabeça doia muito, latejava. Era o medo tomando conta do meu corpo. Pensei que se a Park Street fosse igual à todas as ruas que passávamos; eu estaria perdida. "Não posso ficar na rua"- pensei. Tenho que ir para um local protegido. Foi quando me lembrei de ter visto o nome de um Hotel no mapa que o senhor da cabine que me vendeu o ticket do táxi no aeroporto, mostrou. Era Park Hotel. Perguntei, então, ao motorista, se Park Hotel ficava na Park Street, e para a minha sorte ele respondeu:
- Yes, yes, yes!!!!
-Center many thieves - falou o motorista.
O recado tinha sido dado. E eu já tinha um plano. Pedir abrigo em um Hotel; nem que seja para voltar para o aeroporto. Eu estava suando. Aquele rapaz não me inspirava confiança; nem aquela cidade. "Oque eu estou fazendo alí?". -pensei. Este não era o propósito da minha viagem. "Que Deus me ajude!".
Um comentário:
adorei! bjs
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