Você já se perguntou por quê nos apegamos às coisas boas e repudiamos as más? Isto lhe parece óbvio? Mas não é. Nos apegamos às coisas porque vivemos em um parodoxo da permanência das mesmas. Há momentos em que desejamos que as coisas sejam permanentes (geralmente as coisas boas para nós), e há momentos em que achamos que as coisas negativas são eternas e mais fortes, e aí sofremos por elas. Partimos do princípio insconsciente de que tudo é permanente. Nos apegamos às emoções positivas e às negativas. Sim, porque o repúdio é uma forma de apêgo.
Mas tudo é impermanente. Tudo passa, nada é permanente ou infinito. A mesa na qual trabalho neste momento é impermanente porque um dia ela vai apodrecer e virar pó. A emoção de raiva que sinto quando não consigo fazer oque quero é portanto impermanente porque ela vai passar depois de um tempo. Se pensarmos bem, absolutamente tudo tem início, meio e fim. As emoções boas também são impermanentes. A alegria que sinto quando estou viajando, passa assim que retorno à rotina de minha vida. Se ganho um presente lindo que me enche de felicidade, desfruto desse sentimento por algum tempo, e depois, ele perde sua importância meio à tantas outras coisas que aparecem. Tudo está em constante movimento à nossa volta, partículas, núcleos atômicos, matéria, fatos, sentimentos, emoções, relações, tempo. Tudo se inicia e se finda.
Essa impermanência nos faz pensar um pouco na validade das coisas. Trabalho para quê então? Pensei que fosse para construir uma vida financeiramente sólida, saudável e duradoura...Porque se esforçar por algo que eu sei que vai acabar? Talvez seja melhor virarmos observadores? Inércia, seria então a forma de se escapar do esforço inútil e do sofrimento de ver as coisas surgirem e desaparecerem?
Algumas filosofias orientais ensinam que a consciência da impermanência nos ajuda a “ enfrentar” com mais serenidade os altos e baixos de nossas emoções. Se aceitarmos o conceito da impermanência, automaticamente começamos a “ sofrer menos”, já que não nos “apegamos” às emoções positivas ou negativas. Assim, se me sinto doente, ao invéz de me desesperar achando que vou morrer ou ficar impossibilitada de fazer meus afazeres para sempre...me apegando ao sentimento negativo da doença; eu encaro a doença como um estágio momentâneo, e portanto, foco na cura da mesma para voltar logo às minhas atividades. Da mesma forma, se finalmente encontrei a minha cara metade e estou feliz ao lado dele(a), não me apego à essa pessoa, sabendo que hoje estamos juntos, mas amanhã as coisas poderão mudar por razões diversas e às vezes alheias à nossa vontade, portanto vivo os bons momentos juntos com intensidade, sem elevar expectativas ou projeções futuras. Isto não quer dizer que não vou amá-lo(a) e ser feliz com ele(a), investir em nossa relação. Vou fazê-lo, mas com serenidade e sabedoria, sem me enganar ou iludir.
Talvez este conceito oriental nos ajude à sofrer menos. Deixar de ser marionetes de emoções e pensamentos ilusórios e encarar a realidade como ela é. E ela não deve ser necessariamente boa ou ruim, os adjetivos são criações de nossas mentes, ela é oque é!
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