Chegando à Darjeeling – a Champagne dos Chás - Parte V
Acordei pela manhã muito disposta. O sol brilhava, e diferente do que eu esperava, não fazia frio. Chovia durante o dia, e o clima esfriava, assim como à noite, mas a temperatura chegava ao mínimo de 13 grausC.
Tomei um belo café da manhã com omelete, torradas, geléia e chá. Mais uma vez, o aroma e sabor encorpado do chá de Darjeeling me encantavam.
Era reconfortante e ao mesmo tempo estimulante com notas fortes que eu não conseguia identificar. Após o vasto desjejum, olhei para o terraço do Hotel de onde vinha o som de uma vassoura com água limpando o chão do quintal, esse som me deu a impressão caseira de acolhimento. Me senti em casa e pronta para explorar a vizinhança. Decidi visitar uma plantação de chá primeiro, já que esse era o meu objetivo principal. Como eu havia feito uma pesquisa antes, eu sabia qual fábrica eu queria e podia visitar. Oque foi bom pois meus anfitriões não sabiam muito à respeito.Ofereceram me levar até a fábrica por U$20. 
Decidi me aventurar sozinha. Desci o morro até o centro para trocar algum dinheiro e me informar sobre o transporte. Me aventurei por pequenos atalhos no meio do morro, repleto de palafitas, choupanas, casas e bueiros. Cheguei em uma rua principal onde veículos aguardam passageiros para diferentes destinos. Me senti um peixe fora d’água. Aquilo parecia o inferno em vida. Rua lamacenta e suja, centenas de jeeps e carros velhos, e uma multidão de homens gritando e anagariando passageiros. Após me informar, encontrei um Jeep que seguiria para a cidade de Korseong à 40kms, que levaria 2 horas de viagem. Como eles ainda precisam de 2 passageiros para iniciar a viagem, me aventurei a andar pela rua, e ver se acharia outro transporte mais rápido. Achei uma placa em uma entrada dizendo”transporte para toda a região”- “Entre Aqui”. Era um prédio baixo de 3 andares, mas muito largo com vários comércios. Entrei em uma porta larga que dava para um corredor escuro e cumprido. Lá dentro parecia uma galeria, ou labirinto de pequenos negócios. O chão era de terra, fétido, havia pouca luz nos recintos que eu passava. Depois de 20 metros, passando por cubículos com pessoas ao redor de um fogo, ou mesa, sem que eu pudesse identificar oque estavam fazendo, decobri que aquele não era um lugar para mim. Dei meia volta para sair de lá o mais rápido possível, e um pouco antes da saída, do meu lado direito, qual não foi minha surpresa ao ver um corredor cum prido e no final um pequeno cubículo escuro e um lama, sentado na posição de lótus com velas ao seu redor, e uma mulher lhe servindo algo. Ele olhou na minha direção – eu com medo virei o rosto e continuei em direção à saída, Mas aquela imagem iluminada de vestes , laranja/amarelo e vinho, meio à penumbra, marcou o meu momento naquela manhã. Aquilo ficou registrado em minha mente como um quadro pintado em canvas escuro, uma obra de um Velásquez oriental fruto da minha ilusão talvez. Eu qui voltar lá, mas não tive coragem.
A viagem foi cansativa. O Jeep parava à todo minuto para pegar mais passageiros na estrada. Ele buzinava e brecava o tempo todo, me deixando enjoada. Me senti em uma lata de sardinha literalmente. De Korseong peguei um carro (minicarro) todos velhos demais para andar; e fui até a fábrica de chá, que levou mais uns 20 minutos.
Os cestos vão para a fábrica e lá, as folhas são jogadas em tanques cumpridos e rasos que são aquecidos por dutos de ar quente que passa em baixo com temperaturas que chegam à 250 graus C. As folhas permanecem nesse recinto por 2 horas, e vão para uma máquina redonda que gira em seu próprio eixo e tem por objetivo “enrolar” as folhas. Depois disso as folhas são colocadas em bandejas e descansam em prateleiras por 4 horas, onde se iniciará o processo de fermentação.
Após a fermentação, o processo seguinte é chamado de ‘sorting” ou “escolha”. Mulheres vestidas em seus sáris, sentadas no chão, de madeira branca – impecavelmente limpo e encerado - com peneiras, separam as folhas de acordo com o cumprimento e cor. Determinando assim os diferentes graus e qualidades do chá. Depois disso o chá é ensacado e enviado para a Bolsa do Chá em Calcutá, onde recebe o preço de mercado e é vendido para todo o mundo. O chá Makaibari já obteve o maior preço jamais obtido por uma qualidade de chá na Índia, o de U$450 o kilo. Conheci a sala onde todas as manhãs os degustadores de chá, experimentam e determinam a qualidade. Era uma sala muito pequena, que mais parecia um laboratório.
Eu estava feliz pela experiência, e precisava agora voltar para a Darjeeling. Após parar um carro fretado na estrada, estava na cidade no final do dia. Aproveitei para ir à uma loja de chá e tomar um Darjeeling de verdade. Não resisti e comprei mais outras variedades de chá para mim e para presentear. Me sentei em uma mesa da bonita loja e degustei uma saborosa xícara do mais nobres dos chás. Aquele momento era muito especial para mim e eu estava realmente curtindo. Na prateleira da loja estavam vários bules, mas um em especial chamou minha atenção – era um bule tibetano, feito de turmalina verde sobre cobre e coral, com 8 símbolos gravados, que segundo o vendedor, que foi chamar um senhor para explicar o significado, eram as 8 jóias budistas, que eu aprenderia mais tarde no monastério. Foi um achado. O bule era na verdade do comerciante vizinho, que vendia muitas coisas em um pequeno espaço de 2mtsx1mt. Parecia um pequeno antoquário desorganizado. Quando passei por sua loja, ele me chamou e perguntou se eu gostei do bule que havia adquirido. Disse que sim, e ele me convidou para entrar em sua loja e ver outras relíquias lindas. Uma delas era uma concha do mar encrustrada de símbolos em prata, onde os monges assopravam utilizando-a como trompeta para anunciar as pujas – rezas. Achei linda, mas cara U$120. Ele me mostrou outras conchas menores, enquanto me perguntava de onde vinha e para onde iria; ao dizer que estava à caminho do manastério budista em Kathmandu, ele me disse que era budista e que iria me ajudar a me tornar uma budista, portanto eupoderia pagar oque achava justo pela concha. Poderia ser U$5, ele me venderia. Paguei U$60, pois achei a concha realmente um pedaço de arte, e não queria abusar da boa vontade do velho senhor. Fiquei feliz pois esse era o primeiro presente que compraria para Alex, meu filho de 6 anos que me aguardava em São Paulo. Depois disso conseguí fazer uma ligação para o Brasil de um telefone público e falar com Alex que parecia feliz e referia-se ao calendário que fiz para ele antes de partir. Isso me deixou bastante confortada. Fui a um restaurante para turistas, onde comi uma comida típica indiana – frango na massala, estava delicioso e paguei somente U$10. Já era tarde e me dirigi ao Hotel para ter mais uma noite de sono me sentindo feliz e realizada.
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