14 agosto 2011

Viagem ao Oriente - Rumo ao Hymalaia - Parte IV

Chegando em Bagdogra, encontrei oque eu já esperava: um aeroporto ainda menor que o de Calcutá e nenhuma possibilidade para informação. Apesar disso, avistei logo os "jeeps" que te levam para as montanhas, sobre os quais havia lido na internet. Achei um Land Rover que me pediu U$30 para me levar até Darjeeling - 75kms subindo o Hymalaia.Entrei nele e logo estávamos saindo da cidade e entrando no campo. Foi a primeira vez que ví uma plantação de Camelia Sinensis - a planta do chá, também chamada por lá de Folha Chinesa, como iria aprender mais tarde. Haviam enormes plantações nas baixadas com catadores de chás, ou "Tea Plukers" em pleno trabalho. Passamos por vilarejos muito pobres. Vacas e Cachorros deitados no meio das ruas. Quando iniciamos a subida, a real beleza encheu meu olhos e minha alma...
Fiquei admirada com a riqueza na natureza naquele lugar. A vegetação é uma junção de floresta tropical com floresta temperada, onde bambus, palmeiras e folhagens gigantes convivem com pinheiros enormes,  relva e vegetação rasteira. À medida que subíamos, apareciam cachoeiras, declives e precipícios, que ficavam cada vez mais proeminentes.
Há mais ou menos 1.000 metros de altura começamos à passar no meios de pequenos vilarejos. Também pobres, sujos, caóticos e com muita gente andando, sentada na soleira de suas portas. Percebi que as pessoas alí tinham características diversas dos da parte baixa. Todos tinham olhos puxados como asiáticos ou indígenas, e cor de pele como a dos indianos. Uma mistura interessante que se revelou ser mais tarde parte do povo Sherpa, povo típico das regiões altas dos Hymalaias. Porque o terreno alí é muito íngreme, as ruas são muito estreitas e toda a vila é construída em cima de estacas. Não há muito espaço e portanto, o trânsito é caótico. Muitas vezes não cabem dois carros na mesma via - a única da cidade. A buzina, como consequência, é a forma de comunicação utilizada. Para tudo se buzina: para dar seta, para passar, para parar, para avisar que se está chegando, para reclamar, para saudar, para respirar...Á cada respirada do motorista, uma buzinada!

Chegamos finalmente à Darjeeling no final da tarde, por volta das 18hs, quase escurecendo. Foram 3 horas de viagem, oque eles afirmavam ser 2 horas. Isso também eu já estava apreendendo: os indianos sempre se enganam em ralação ao tempo. Proposital, ou não, nunca é oque dizem ser. Sempre será mais, do que oque afirmam ser!

A cidade não me impressionou. Pelo contrário. Mas como eu estava exausta, e já estava escurecendo, decidi julgar isto no dia seguinte. Chegamos ao Hotel que tb não fez jus às minhas expectativas, e assim que paramos na calçada, o motorista me pediu mais dinheiro. Me recusei à pagar. E ele foi embora bravo, me deixando à beira de uma subida de uns 100 metros para chegar ao Hotel. Subi a rampa como se estivesse pagando uma promessa. A mala pesava, minhas pernas doiam. Após 3 dias viajando, eu não via a hora de chegar, seja lá onde for.

O Hotel era uma casa muito velha, com móveis e roupa de cama velhos e gastos. Mas tudo parecia muito limpo. Assim que entrei no quarto que me foi designado, procurei um telefone, que não existia. Queria ligar para o Brasil, e me disseram que só seria possível, em um bar há 1 km dalí. Como eu estava faminta, decidi jantar, primeiro. A dona do Hotel fez arroz com frango massala, e apesar de aparentemente simples, estava delicioso. De sobremesa me serviram chá, que para mim foi o chá mais gostoso que eu já havia experimentado até então. Aquela comida e aquele chá aqueceram minha alma e lavaram meu cansaço. O dono me ofereceu dois garotos para me acompanhar até o bar, e eu aceitei. As ruas estavam escuras e desertas, o chão era de terra, o bairro muito pobre. É como se eu estivesse andando em uma favela à meia-noite. Eram apenas 19:30hs, e aquela escuridão em um lugar desconhecido, me deu medo. No entanto eu me sentia, de certa forma, confortada e segura com os dois garotos locais me escoltando. Depois que fiz a ligação, um deles foi embora para sua casa; e o menor, que não falava uma palavra em inglês, me levou de volta. Aos poucos o medo foi sumindo e pude sentir o odor da mata, misturado ao cheiro ocre de comida, temperos e umidade da região. A calma foi invadindo meu corpo, me senti acolhida por aquela imensidão de montanha e cultura tão diversa.

Naquela noite, após 3 dias, finalmente dormí em uma cama. Foram 9 horas de um sono profundo. Pela primeira vez em muitos anos, não levantei nenhuma vez durante à noite, e nem me lembro se sonhei. Foi o sono mais recuperador e gostoso que me lembro.

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