Fiquei admirada com a riqueza na natureza naquele lugar. A vegetação é uma junção de floresta tropical com floresta temperada, onde bambus, palmeiras e folhagens gigantes convivem com pinheiros enormes, relva e vegetação rasteira. À medida que subíamos, apareciam cachoeiras, declives e precipícios, que ficavam cada vez mais proeminentes.
Chegamos finalmente à Darjeeling no final da tarde, por volta das 18hs, quase escurecendo. Foram 3 horas de viagem, oque eles afirmavam ser 2 horas. Isso também eu já estava apreendendo: os indianos sempre se enganam em ralação ao tempo. Proposital, ou não, nunca é oque dizem ser. Sempre será mais, do que oque afirmam ser!
A cidade não me impressionou. Pelo contrário. Mas como eu estava exausta, e já estava escurecendo, decidi julgar isto no dia seguinte. Chegamos ao Hotel que tb não fez jus às minhas expectativas, e assim que paramos na calçada, o motorista me pediu mais dinheiro. Me recusei à pagar. E ele foi embora bravo, me deixando à beira de uma subida de uns 100 metros para chegar ao Hotel. Subi a rampa como se estivesse pagando uma promessa. A mala pesava, minhas pernas doiam. Após 3 dias viajando, eu não via a hora de chegar, seja lá onde for.
O Hotel era uma casa muito velha, com móveis e roupa de cama velhos e gastos. Mas tudo parecia muito limpo. Assim que entrei no quarto que me foi designado, procurei um telefone, que não existia. Queria ligar para o Brasil, e me disseram que só seria possível, em um bar há 1 km dalí. Como eu estava faminta, decidi jantar, primeiro. A dona do Hotel fez arroz com frango massala, e apesar de aparentemente simples, estava delicioso. De sobremesa me serviram chá, que para mim foi o chá mais gostoso que eu já havia experimentado até então. Aquela comida e aquele chá aqueceram minha alma e lavaram meu cansaço. O dono me ofereceu dois garotos para me acompanhar até o bar, e eu aceitei. As ruas estavam escuras e desertas, o chão era de terra, o bairro muito pobre. É como se eu estivesse andando em uma favela à meia-noite. Eram apenas 19:30hs, e aquela escuridão em um lugar desconhecido, me deu medo. No entanto eu me sentia, de certa forma, confortada e segura com os dois garotos locais me escoltando. Depois que fiz a ligação, um deles foi embora para sua casa; e o menor, que não falava uma palavra em inglês, me levou de volta. Aos poucos o medo foi sumindo e pude sentir o odor da mata, misturado ao cheiro ocre de comida, temperos e umidade da região. A calma foi invadindo meu corpo, me senti acolhida por aquela imensidão de montanha e cultura tão diversa.
Naquela noite, após 3 dias, finalmente dormí em uma cama. Foram 9 horas de um sono profundo. Pela primeira vez em muitos anos, não levantei nenhuma vez durante à noite, e nem me lembro se sonhei. Foi o sono mais recuperador e gostoso que me lembro.
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